A Seca nas Artes

e na vida do povo brasileiro

Olá! Sejam bem-vindos à Mostra Literária Teleyos da turma C do 2º ano do Ensino Médio. Tudo foi feito com muita dedicação e carinho, esperamos que gostem.


A Literatura, como forma de expressão artística, reproduz muitos dos anseios vividos por um período histórico. Em 1930, aproximadamente, após a mudança do eixo econômico para o Sudeste do país, o Nordeste, em pleno declínio do ciclo do açúcar, viu-se repleto de problemas sociais e desassistido por políticas públicas.

Nesse momento, artistas, como Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, José Américo de Almeida e tantos outros, resolveram registrar em suas obras a vida do povo nordestino, retratando suas falas, seus costumes e suas dores. Graças a essas personalidades, a Literatura desse período não serviu apenas como uma forma de representatividade, mas também como denúncia para o descaso dos governantes frente à escassez de ajuda em relação ao homem nordestino. E é exatamente sobre isso que falaremos agora, sobre escritores e sobre obras que entraram para a História por retratar tão bem a realidade do nosso povo.


Conheça um pouco sobre os autores da 2ª Geração Modernista. Ouça nosso podcast:


A bagaceira – José Américo de Almeida
A primeira obra da Geração de 30


A bagaceira

“Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição do cemitério antigo – esqueletos radioativos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres […] Os fantasmas estropiados como que iam dançando, de tão trôpegos e trêmulos, num passo arrastado de quem leva as pernas em vez de ser levado por elas […] Andavam devagar, olhando para trás, como quem quer voltar.

Não tinham pressa em chegar, porque não sabiam aonde iam. Expulsos do seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fardos […] Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais”.


A bagaceira, José Américo de Almeida

O Quinze – Rachel de Queiroz

"Recordando a labuta do dia, o que o dominava agora era uma infinita preguiça da vida, da eterna luta com o sol, com a fome, com a natureza". O Quinze, Rachel de Queiroz


E se os personagens de O Quinze saíssem das páginas do livro e ganhassem vida? Ouça nosso podcast:

"Lá se tinha ficado o Josias, na sua cova à beira da estrada, com uma cruz de dois paus amarrados, feita pelo pai. Ficou em paz. Não tinha mais que chorar de fome, estrada afora. Não tinha mais alguns anos de miséria à frente da vida, para cair depois no mesmo buraco, à sombra das mesma cruz."

O Quinze, Rachel de Queiroz

"Agora, ao Chico Bento, como único recurso, só restava arribar. Sem legume, sem serviço, sem meios de nenhuma espécie, não havia de ficar morrendo de fome, enquanto a seca durasse. Depois, o mundo é grande e no Amazonas sempre há borracha... Alta noite, na camarinha fechada que uma lamparina moribunda alumiava mal, combinou com a mulher o plano de partida. Ela ouvia chorando, enxugando na varanda encarnada da rede, os olhos cegos de lágrimas. Chico Bento, na confiança do seu sonho, procurou animá-la, contando-lhe os mil casos de retirantes enriquecidos no Norte."

O Quinze, Rachel de Queiroz

A dura realidade

A Literatura muitas vezes serve como denúncia para uma realidade ignorada ou pouco vista. É o que acontece com os romances da geração de 30, que denunciam o sofrimento e a privação de todo um povo. Obras como A bagaceira e O Quinze, além de demonstrarem um refinamento estético na escrita dos autores, abordam questões pouco conhecidas por muitos brasileiros até os dias atuais, como os retirantes e os campos de concentração.

Por falar nisso, você sabia que tivemos no Brasil campos de concentração para “receber” sertanejos que fugiam da seca? Aqui mesmo, na cidade de Fortaleza, tivemos alguns desses locais que prometiam abrigar os retirantes, mas que muitas vezes apenas prolongavam a penúria de vida que era enfrentada por pessoas nordestinas. Agora, vamos apresentar para vocês, em notícias, fotografias, vídeos e podcast, um pouco dessa dura realidade histórica de nossa região.



Ao clicar no livro, você será direcionado para nosso jornal sobre os Campos de Concentração


Ouça nosso podcast sobre os Campos de Concentração no Ceará:


Em 2019, após mais de oito décadas, as ruínas remanescentes do Campo de Concentração do Patu, localizado no município de Senador Pompeu, a 270 quilômetros de Fortaleza, foram tombadas como parte da história e da memória do estado e do país.

Nesse campo, milhares de pessoas sofreram e morreram de doenças, maus-tratos e inanição. A construção, que tinha como objetivo evitar que retirantes chegassem às cidades, era explorada como lugar para mão de obra barata e até escrava.

Agora, acompanhe com a gente a entrevista feita com a Dra. Kenia Sousa Rios, professora da Universidade Federal do Ceará, autora do livro “Isolamento e poder – Fortaleza e os campos de concentração na Seca de 1932”, dentre outras obras de sua autoria.